A caminhada continua...

Em breve novo local e horario das reuniões, todos desde ja são bem vindos, aguardem...

O que é o Caminho?

O Caminho é mais que um lugar ou um clube de iluminados. Trata-se de um movimento de subversão do Reino de Deus na Terra. Clique aqui

sexta-feira, 28 de maio de 2010

ENTRE MENINOS E HOMENS…


“Quando eu era menino…” — disse Paulo sem nostalgia do tempo decorrido...


Assim deveria ser com todo homem satisfeito com a alegria da maturidade.

Sim! Lembrar do tempo em que se era menino na fé em Cristo, mas não com saudade.

Menino faz meninice...

Paulo, no texto acima, retirado de I Corintios 13, não diz qual era a sua meninice, mas nos dias que ele já fora apenas um menino... Também ele havia sido um dia um menino.

Entretanto, considerando que ele diz que a maturidade de um homem somente é alcançada quando o homem aprende o caminho sobremodo excelente, a vereda do amor, então, é para se supor que a meninice de Paulo fora confiar mais na certeza da verdade do que na verdade do amor.

O fato que até em Cristo [e, sobretudo, em Cristo...] Paulo viu que as coisas poderiam ficar pequenas e infantis, conforme ele via na fé dos discípulos de Jerusalém [com os que estavam com Tiago], alguns deles ainda tão meninos e presos ao que já não era...

Entretanto, Paulo fez a viagem toda... Não nasceu escrevendo aos Efésios. Teve que viver...

Teve todas as fases de impressões...

Línguas, profecias, curas, milagres, ciência, sabedoria, fé, coragem altruísta, esperança, tudo.

Não demorou, no entanto, para que ele visse que sem amor toda aquela construção seria tão sem sentido quanto o era a tentativa de agradar a Deus pela Lei apenas.

Era possível que um cristão virasse fariseu pela simples observância da fé em Jesus, porém, sem amor e misericórdia.

Ora, certamente foi a partir de si mesmo que Paulo também discerniu as infantilidades [de fato: transitoriedades] anteriores da revelação nas Escrituras, de acordo com o tempo de maturidade do povo, na seqüência histórica que se pode acompanhar pela Bíblia.

Ele teve que não apenas deixar a mente de um fariseu educado aos pés do Rabino Gamaliel, e que ainda muito jovem já se destacava no meio de todos, ganhando poder, confiança e prestigio. Sim! Ele teve que deixar também a tentação de conciliar a fidelidade à Torá, ao Velho Testamento, com o fato de que em Jesus a maior de tudo aquilo deixara de ser ou de ter qualquer valor: tornaram-se apenas sombra de coisas que em Jesus haviam sido realizadas e consumadas.

Paulo nada diz, porém, eu creio, pelo que sinto no modo como ele se serve do Velho Testamento em suas cartas, que seu modo de sentir os textos das Escrituras levava em consideração as épocas e os contextos; porém, a ênfase da leitura era sempre espiritual e centrada em Jesus.

Para mim, falando de como eu sinto os textos, é mais ou menos assim:

A linguagem do Gênesis, por exemplo, segue o modelo narrativo universal, que até as crianças podem entender.

O Êxodo é um livro da pré-adolescência da fé, com todas as aventuras da hora e do tempo da libertação.

Os demais livros narram a juventude rebelde de Israel.

Os profetas são as vozes que se levantam contra o estado adolescente de Israel, em face do fato de que já deveriam ser adultos, mas não eram.

Os salmos são os espasmos da lucidez da alma ante a cegueira do povo, a maior parte deles.

O Cativeiro em Babilônia foi o “Campo de Concentração” no qual a criancice idolátrica de Israel foi curada, pelo menos no que tangia à primitividade da manifestação do que fosse idolatria grosseira.

O interregno entre a idade adulta escravizada e a vinda do Messias, Jesus, foi um tempo de idade adulta carente e perdida...

Então vem o que é...

Vem Jesus!

Nesse ponto a Revelação se plenifica.

Já não há mais nada a ser acrescentado.

A Palavra se Encarnara.

Deus está conosco.

Porém o povo das Escrituras não discerniu a Palavra.

Entretanto...

Sobre um dia ter sido criança e andado na direção da maturidade no amor, o que percebi foi que assim como foi na linearidade da história, assim tem sido também comigo como individuo.

Todos os que estamos andando no Caminho da Vida em Jesus tivemos o tempo gênesis, a fase êxodo, as rebeldias enfrentadas por profetas, os próprios exílios e enganos; e, sobretudo, a chegada do tempo das desilusões salvadoras, quando fica apenas Jesus e a pessoa; sem nada mais entre ambos.

Assim segue...

Este é o processo...

Encantamento... — gênesis.

Libertação de cativeiros... — êxodos.

Excesso de autoconfiança e rebelião... — reis e templo.

Culto ao si mesmo... — as ameaças de cativeiro.

Cativeiros outras vez... — Babilônia sempre volta.

Solidão. Silencio — sem profetas.

Então, Deus em Plenitude!

Somente a Palavra.

Assim foi com Israel. Assim foi com Paulo. Assim é comigo. Assim está sendo com vocês. Com nós todos.

O caminho sobremodo excelente faz a viagem toda...

Por isto é que para Paulo tudo o que não fosse ainda somente a Palavra e somente amor, conforme Jesus, ainda era coisa de menino.

Assim, aprende-se que no Caminho todos temos estado..., embora andando em meninice.

Todavia, o que se afirma é simples:

Pode-se fazer a viagem para sempre..., mas ela somente se conclui quando o amor passa a ser [no Caminho] o caminho sobremodo excelente.

Foi assim na história linear da REVELAÇÃO... Até a Encarnação do Amor: Jesus.

É assim na viagem pessoal de auto-conhecimento e de crescimento na Revelação; até que a Palavra vá se tornando amor, amor, amor em nós.

Todos nascemos bebês. Todos já fomos meninos. Já nos distraímos com muitas coisas... Mas ninguém se torna adulto em Cristo enquanto não aceita que o Dogma é apenas amor; e que sem amor toda adulteza é mera criancice.

Sim! Sem amor Abraão é apenas um velho obcecado; Moisés é um narcisista preferindo um trono no nada... do que qualquer segundo lugar no Egito...

Sem amor, Josué pode ter tido fé, mas o sol apenas tostaria a sua cabeça... Davi, sem amor, seria apenas um adultero e homicida, surtado pelo ego.

Sem amor os profetas nada fizeram de bem para si mesmos. Sem amor Daniel seria apenas um serviçal vendido a qualquer que fosse o rei ou o reino.

Sem amor a Lei se tornava trevas e morte...

Sem amor nada existe no homem que Deus chame de ‘adulto’.

Sem amor, Paulo entendeu, nada tem valor algum. E mais: discerniu que qualquer outra compreensão era ainda ilusão de menino.

Nele, que é amor,

Caio

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O INSOLÚVEL CONFLITO ENTRE A RELIGIÃO E O EVANGELHO



Dias depois, entrou Jesus de novo em Cafarnaum, e logo correu que Ele estava na cidade. Muitos afluíram para o lugar onde Ele estava, tantos que nem mesmo junto à porta eles achavam lugar; e Jesus anunciava-lhes a Palavra. Alguns foram ter com Ele conduzindo um paralítico, levado por quatro homens. E, não podendo aproximar-se Dele, por causa da multidão, descobriram o telhado no ponto correspondente ao em que Ele estava e, fazendo uma abertura, baixaram o leito em que jazia o doente.


Em que igreja alguém teria a liberdade de quebrar o telhado e baixar alguém para dentro do culto sem ser preso ou ter que indenizar a igreja por danos no telhado?

Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados.

Pode haver desejo mais puro, mais humano, mais divino e mais sublime, do que este desejo de que os pecados sejam perdoados? Qualquer interpretação maligna viria do fato que eles sabiam que Jesus não só falava sério, mas que o que Ele dizia era também verdade para quem ouvia.

Mas alguns dos escribas estavam assentados ali e arrazoavam em seu coração: Por que fala ele deste modo? Isto é blasfêmia! Quem pode perdoar pecados, senão um, que é Deus? 

Somente almas adoecidas pelos ritos morais de doutrinas de pedra podem se infelicitar com a afirmação de que os pecados de um outro homem estão perdoados. Questionar tal realidade é questionar a essência do ensino de Jesus quanto ao fato que Ele mesmo ordenou que Seus discípulos perdoassem pecados, como Deus mesmo perdoa. O cerne do ensino de Jesus acerca de Deus em relação aos homens, e dos homens em relação uns aos outros, é que pecados são perdoados. Mas isto escandaliza a religião, posto que ela se julga a detentora do poder de dizer quando ou não Deus perdoou ou deve ter perdoado algum pecado.

E Jesus, percebendo logo por seu espírito que eles assim arrazoavam, disse-lhes: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração? Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados— disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. Então, ele se levantou e, no mesmo instante, tomando o leito, retirou-se à vista de todos, a ponto de se admirarem todos e darem glória a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa assim!

O Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados! A ironia é que os homens crêem muito mais que paralíticos podem ser curados do que pecados podem ser perdoados. Aceitar que o Filho do Homem tem autoridade para perdoar pecados, e, aceitar que os pecados estão perdoados, os nossos ou os dos outros, é que é um grande desafio para a alma. Por isso todos crêem em ‘milagres’, mas poucos crêem em perdão; no seu próprio e no concedido e recebido por outros.

De novo, saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ao seu encontro, e Ele os ensinava. Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.

Procurar a Levi no escritório, no lugar das cobranças de impostos, o qual estava lotado de devedores, os quais bem conheciam quem era Levi, ou Mateus, era algo profundamente provocativo em todas as perspectivas. Mas Jesus escolhe o homem mal visto para ver o bem.

Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com Ele e com Seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam.

O fato de Mateus ter sido convidado e aceito andar com Jesus, certamente criou no coração de todos os cobradores de impostos [publicanos] e de todos os demais indivíduos que se sentiam marginalizados pela religião e suas leis e morais [os pecadores], bastante confiança diante de Jesus. Ele não julgava as pessoas e nem se deixava seqüestrar por estereótipos. Por isso os homens normais confiavam Nele.

Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos Dele: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?

Comer e beber sempre foram gestos de amizade e companheirismos. A palavra companheiro significa ‘aquele que divide o pão’—com-pan... Mas nos dias de Jesus aquele ato e com aquelas pessoas evocava uma união e uma identidade que assustava a casta dos religiosos, com suas Morais Separatistas, com seus Apartheides e com seus Campos de Separação dos demais homens. Assim, comer com publicanos e pecadores—coisa simples e normal, comum, sadia, e própria da vida—, se torna algo imenso, descomunal, carnal, impróprio, impuro, sacrílego, blasfemo. A alma que se torna moral nos sentido julgador da palavra tem em si o poder de chamar à existência as coisas que não existem. Neste caso, neste texto, nada estava acontecendo. Jesus estava apenas comendo com outros seres humanos. Mas a religião não reconhece humanidade senão nos que são clonados por ela.

Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.

Jesus veio para todo aquele que diz: “Miserável homem sou!”; ou para quem diz: “Sou o maior dos pecadores”; ou até para quem diz como Friedrich Nietzsche: “Se realmente existe um Deus vivo, sou o mais miserável dos homens.” Os fariseus ouvem Nietzsche, e dizem: “Vejam! Ele próprio se condena!” Jesus, porém, pode ouvir de outra maneira, de tal modo que até o que a religião ouve como blasfêmia, pode, para Jesus, ser apenas confissão de necessidade. Mas os fariseus não podem se igualar desta forma aos homens. Eles podem até se dizer doentes. Porém, sempre dirão que ‘eram’ doentes, ‘antes’ de conhecerem a sua religião de agora. Mas jamais se colocarão em igualdade com os doentes crônicos, e que se internam para o resto da vida aos pés de Jesus.

Ora, os discípulos de João e os fariseus estavam jejuando. Vieram alguns e lhe perguntaram: Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?

Ninguém perdia a chance de tentar enquadrar a Jesus. Ele tinha que ceder. Alguma concessão à idiotice Ele teria que fazer. Sim, Ele precisa transigir, como fazem todos os seres que guardam alguma forma de interesse nas importâncias deste mundo. Por isso, talvez animados pelo fato de que Jesus demonstrava respeitar e amar João Batista, alguns fariseus ousaram tentar pegar Jesus em alguma forma de cooptação. Se Ele desse um dia para que tal coisa acontecesse, ou se aceitasse que se instituísse O Dia do Jejum de Jesus, na mesma hora tudo o que Ele ensinava viraria religião, e perderia o poder subversivo do Reino de Deus.

Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar. Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; e, nesse tempo, jejuarão. Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos.

Jesus lhes diz que ser Seu discípulo é discernir e possuir senso de propriedade. Não se faz jejum em dia de festa. No entanto, Jesus vai mais além, e os provoca evocando uma imagem de Festa, de Bodas do Noivo, de algo que tinha suas raízes no chão da maior alegria humana—o casamento—, mas que também remetia para a imagem e o arquétipo de uma Boda Escatológica. Ele diz que há algo Do Outro Mundo acontecendo entre eles, enquanto eles pensam em jejuar. Jesus diz que quem fosse Seu discípulo, então, que entrasse naquela festa de publicanos e pecadores, pois, era ali que estava o Reino de Deus; posto que onde quer que Jesus seja bem-vindo, aí o Reino faz pouso. No entanto, Ele prossegue também denunciando a impossibilidade de que aquela ‘nova’ maneira de ver a vida pudesse ser aceita por ‘olhos antigos’. Ele diz que não tentará fazer tal implante de consciência. Na realidade, Ele diz que seria e ficaria ainda pior. Ele sabe que certas consciências se cristalizam em certos estados, e começam a perder o viço da vida. Aceitar a vida no Reino e seu espírito de Bodas é inaceitável para aqueles que vivam do luto. Aquelas pesadas estruturas de tradição jamais aceitariam o Evangelho do reino. Assim, Ele também indica que o novo estava no mundo, entre publicanos e pecadores, nas esquinas, nas vielas, nas ruas, nas festas, nos caminhos, e nas veredas todas desta existência, onde houver alguém querendo. Jesus também ensinava que nem mesmo perder tempo quebrando paradigmas Ele perderia. Ele diz que põe novo no novo e não insiste em meter o novo no velho. É grande o estrago... Com isto Ele diz que estruturas mentais que se tornam coletivas e engessadas, são como algo que envelhece como pano ou saco de couro de odres de vinho. Para Ele elas deveriam acabar por si mesmas. Mas não há aqui uma fixação de nenhum estado de inconversibilidade. Qualquer individuo pode mudar. Mas o espírito de um tempo não se converte. 

Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas. Advertiram-no os fariseus: Vê! Por que fazem o que não é lícito aos sábados?

Agora a questão é o dia do Descanso Obrigatório, o Sábado, pois é isto aquilo no que ele se tornara. Era lícito segundo a Lei de Moises que as espigas das esquinas fossem deixadas aos pobres e necessitados, para que não houvesse fome na terra, mesmo que alguém não tivesse uma propriedade. A questão, no entanto, é se no Sábado isto poderia ser feito. Essa era a preocupação da religião, sempre aflita pelas causas importantes (rsrsrs), e sempre disposta a defender Deus das irreverências dos homens. Parecia que Deus não teria descanso se tudo não parasse na Terra. O homem teria que morrer de fome por amor a Deus nas beiradas dos campos de cheios de espigas de vida. O Deus da religião é do tamanho da mediocridade e da mesquinhez dos fariseus.
Mas ele lhes respondeu: Nunca lestes o que fez Davi, quando se viu em necessidade e teve fome, ele e os seus companheiros? Como entrou na Casa de Deus, no tempo do sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, os quais não é lícito comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?

Jesus então escracha. Literalmente. Afinal, eles falavam de algo que existia em campo aberto e que poderia ser licito ou não dependendo do dia—no caso, o Sábado—; mas Jesus vai além, e coloca logo um questão—perguntando se nunca haviam lido acerca do assunto—que está muito mais para além de todas as expectativas. Ele diz que Davi comeu o pão sagrado, e comeu daquilo que era proibido comer em qualquer dia, e por qualquer pessoa que não fosse o sacerdote, e, ainda assim, conforme o rito..., e não pecou por isso. Assim, Jesus diz que a necessidade é maior do que qualquer lei da religião, e que o sagrado se faz santificado pela necessidade que é essencial à vida. Além disso, Ele declara o sacerdócio de Céu Aberto que Ele inaugurava, no qual todos os homens poderiam ganhar a consciência livre para saber a diferença entre o atender a uma necessidade básica da vida, e uma transgressão.

E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado. 

Jesus se identifica com os humanos ao dizer que o Sábado foi feito para o homem, e não o contrário; para então concluir que sendo Ele humano, e, entre os humanos, o Filho do Homem; tanto pela Sua humanidade, quanto também pela Soberania do Significado dela, Ele era o Senhor do Sábado. Todavia, o tom no qual Ele se apresenta como o Filho do Homem é de Senhor do Sábado, o que equivale a Senhor da Criação. Aquele que diz quando é a hora do descanso. Para os ouvidos puristas e doentes de religiosidade dogmática e tradicional como os dos fariseus, aquela declaração era como alfinete nas nádegas da alma religiosa. Simplesmente não dava para ser menos explicito. Quem falava era o Senhor Homem.

De novo, entrou Jesus na sinagoga e estava ali um homem que tinha ressequida uma das mãos. E estavam observando a Jesus para ver se o curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem. E disse Jesus ao homem da mão ressequida: Vem para o meio! Então, lhes perguntou: É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la? Mas eles ficaram em silêncio.

Tudo começou com Jesus sendo provocado acerca de Sua amizade com pecadores. Depois Ele deu respostas. Agora Ele mesmo toma a iniciativa da provocação. Entra na Sinagoga e provoca. Põe um problema. E mais do que isto: Ele assume que para a mente religiosa fazer o que Ele faria seria uma “transgressão”, e faz assim mesmo. E faz tudo se explicar pelas razões de um coração paterno.

Olhando-os ao redor, indignado e condoído com a dureza do seu coração, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu-a, e a mão lhe foi restaurada. Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodianos, contra ele, em como lhe tirariam a vida. Retirou-se Jesus com os seus discípulos para os lados do mar. Seguia-o da Galileia uma grande multidão. Também da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, dalém do Jordão e dos arredores de Tiro e de Sidom uma grande multidão, sabendo quantas coisas Jesus fazia, veio ter com ele.

Ao fim desse intenso encontro as motivações ficam estabelecidas. A religião precisa matar Aquele que a desestabiliza tão radicalmente, tirando de suas mãos o poder e o controle. Já o caminho do Reino segue para o ar livre, não para os conluios da morte e nem para a conspiração dos mesquinhos e empedernidos de justiça própria, mas sim para as gentes, para todas as pessoas, abrindo-se em todas as direções, suscitando desejo por Deus em corações muito diferentes entre si. Todos, porém, abertos para Jesus. Esta é apenas uma página do Evangelho Segundo Marcos, mas poderia ser muito bem o resumo histórico acerca de como a Religião trata o Evangelho.

Nele, que é maior que todas as religiões e não cabe em nenhuma delas.

Caio

AS PAIXÕES QUE FAZEM GUERRA CONTRA A ALMA



Pedro disse (na sua 1ª Epístola) que as paixões carnais fazem guerra contra a alma; e que é pela obediência à verdade que a nossa alma é purificada.


De fato, Pedro está dizendo que a alma pode se enganar muito tempo com nossas mentiras, e com as mentiras que nós decidimos que serão o piso de nossa realidade; e que, além disso, a alma, pode entregar-se à procura de todas as formas de realização indicadas por nós para ela — porém, depois de um tempo, ferida nas guerras das paixões, dos surtos, dos impulsos, dos direitos inquestionáveis, dos caprichos tidos como normais, e de todo tipo de hedonismo sem significado e sem afeto, a alma se levanta com o poder das Sombras do Interior; e se apresenta com as feições às quais se amoldou (“... Não vos amoldeis às paixões que fazem guerra contra a alma...”).

Então a pessoa grita: “Assombração! Fantasma! Diabo! O que é isso?”.

Mas não é nada. É apenas a alma nos chamando para uma “Exposição de Fotos Nossas”; ou chamando para um desfile dela mesma com as roupas psicológicas e com as formas e contornos de caráter que nós impusemos como “beleza e saúde” sobre ela.

A alma pode comer mentira por muito tempo; mas não comerá o tempo todo.

Sim! Sempre, mais cedo ou mais tarde, a alma se apresentará vestida com nossos gostos e caprichos transformados em produto psicológico. Então, ela, a alma, nos dá a chance de dizer “isto é bom”; ou, então, de dizermos “isto é mal”; ou, quem sabe, “não é bom pra mim”.

A salvação do homem que tem uma alma — é poder pelo menos ouvir seus gritos de dor em razão de sua existência posta contra a verdade; e, assim, dar a ela o direito de conhecer a verdade.

No entanto, caso isso não seja a ela concedido, se morrerá carcomido pela fantasia como fantasmagoria; pela mentira como frustração; pela ilusão como esperança adiada (que enferma o coração); pela auto-vitimização que impede a pessoa de assumir responsabilidades para a libertação pessoal; e por toda sorte de desculpas; as quais se transformarão em amarguras; mas que jamais farão a pessoa abraçar a verdade para o bem da alma; e para que pela verdade ela seja purificada.

A alma se tumultua com a mentira, o engano e a fantasia; e se torna ela mesma, pacificada, quando é restaurada pela obediência à verdade.

Pedro diz que essas paixões se manifestam como paixão sexual (sem afeto; ou com afeto fabricado a fim de “justificar” o troca-troca); e como paixão relacional (cheia de amarguras e de vícios do ódio e do engano; com muita gritaria, e com muita dependência e co-dependência; e com muita embriagues ou fuga do real).

E mais: ele diz que tais paixões carnais têm sua dimensão pública; e que se manifestam nos abusos praticados contra a esposa, o marido, os servos, os patrões, os empregados, as autoridades, etc.

Sim! Essa paixão carnal é narcisista e é cheia de auto-indulgência, posto que sua marca principal é a insatisfação passional e louca, bem como é ela marcada pelo mais profundo egoísmo e falta de afeto natural.

Paixões carnais são patologias do sentir e do desejo; e são o fruto da fobia da morte, que diz: “aproveita que está acabando...”; e, também, se deriva da insegurança existencial de quem não tem em Deus (mesmo!) o sentido de sua vida.

Paixões carnais nada têm a ver com a boa paixão, que enfatua a alma pelo encontro, e que precede ao amor que crescerá pelo vínculo com o outro. Nem tampouco têm elas qualquer coisa a ver com a vontade de trabalhar e de crescer, se o crescimento de fora não matar o de dentro.

Paixões carnais são fruto também da vaidade existencial que só encontra afirmação no que possa mostrar como variedade e poder para fora — nem que seja poder para manipular e seduzir por seduzir.

Por último, as paixões carnais também se manifestam de modo “espiritual”, e que têm a ver com sede poder sobre as demais pessoas, com o fim de sobre elas sobressair e controlar.

Assim, a busca da fama, do poder, do dinheiro e das importâncias sociais —, também fazem parte das paixões carnais.

Pedro conclui dizendo que o diabo está em derredor; e que as ansiedades trabalham em seu favor contra nós.

Sim! As paixões que fazem guerra contra a alma são as mesmas que geram as ansiedades que o diabo usa. Usa-as a fim de determinar (pelas nossas carências e pelos vazios do coração) as necessidades que haverão de ser atendidas justamente por aquilo que haverá de fazer guerra contra a alma.

Desse modo, Pedro diz que o remédio para isso é purificar a alma na verdade e manter a mente sóbria, modesta, lúcida, calma, e com todas as ansiedades postas diante de Deus; com confiança!

Quem ama a verdade fará bom proveito para a alma crendo em tudo o que aqui disse; pois eu sei, você sabe, todos sabem, que o que tenho aqui dito é a Palavra que nos foi evangelizada desde o principio.

Assim, também digo, buscando ser fiel despenseiro da Graça de Deus: “O que recebi isto também vos entreguei!”.

Nele, que nos chama à salvação na verdade e no amor,

Caio

sexta-feira, 14 de maio de 2010

ENTRE ANGUSTIAS, GEMIDOS, ESPERANÇAS E CERTEZAS...


Os capítulos 7 e 8 de Romanos nos abrem janelas para infinitos mundos.


Aqui não é o caso tentar mostrar as múltiplas variáveis daqueles dois capítulos.

Hoje o que desejo é mais simples, bem mais simples.

Paulo diz que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória a vir ser revelada em nós.

De fato, o que desejo e mostrar o realismo esperançoso da mente de Paulo.

Ele fala de esperança, vitória, inseparabilidade do amor de Deus, intercessão do Espírito na nossa fraqueza, a constituição de todas as coisas para o bem, a certeza de que fomos pré-conhecidos, predestinados, chamados, justificados, glorificados em Cristo, e que não há força, poder, ou autoridade—seja visível ou invisível—que possa nos acusar ou derrotar, pois, nossa vitória está no amor de Deus.

Isto tudo em meio à maiores afirmações de realismo.

1. Gememos com a natureza e sofremos angustias em nosso intimo aguardando o dia da redenção dos nossos corpos e de todo o cosmos. Sofremos as dores de ser animais com os animais, porém transcendendo ao nível apenas animal. Mas participamos de todos os gemidos que a criação geme...tanto pela sobrevivência...como pela expectativa de que o fim das vaidades da sobrevivência traga a gloria dos filhos de Deus.

2. Gememos também pelas culpa e neuroses que o pecado gerou em nós. Então, no capítulo 7, Paulo descreve essa dor de incoerências e os gemidos da consciência que se percebe como fragmentada pelo pecado...graças à consciência que a lei trouxe sobre nós.

3. Gememos pela fé que levamos no peito contra as incompatibilidades essenciais de um mundo sem fé. Assim, vem a fome, a espada, o perigo, a nudez, as privações...tudo pelo evangelho.

Esse é o realismo de Paulo.

Gememos com a natureza.

Gememos em nós mesmos.

Gememos pelo que cremos e pela fé que escolhemos assumir na vida.

Mas o realismo de Paulo não é pessimista...

Gememos com a criação...mas na esperança somos salvos.

Gememos em nós mesmos...pela nossa psicose básica...mas somos objeto da intercessão do Espírito. Quem nos condenará? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? Quem nos condenará? Se Deus é por nós...quem será contra nós? Já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo.

Gememos ante as circunstancias de adversidade e perseguição...mas somos mais que vencedores...afinal, quem poderá nos separar do amor de Cristo.

1. Nosso gemido com a criação tem na ressurreição de Jesus no corpo a certeza de que toda a matéria também será redimida.

2. Nosso gemido de existência e de consciência tem na morte de Jesus sua carta de alforria do casamento com a culpa que vem da lei...Jesus que encarnou o papel daquele que fez a morte morrer com Ele (Rm 7:1-5), para que focássemos livres do casamento com a Lei, a fim de casarmos sem culpa...em novas núpcias..sem o marido-lei...que virou defunto em Cristo...e agora estamos livres...e nos casamos com a Graça de Deus. Esse casamento, sim!...é indissolúvel...ninguém pode nos separar...desse amor.

3. Nosso gemido ante as perseguições tem na certeza de que toda a conspiração contrária a nós...é apenas a aparência de adversidade, pois, de fato, no conjunto...tudo vira sinfonia para o bem de quem ama a Deus.

Assim era que Paulo via as coisas: o cosmo, o coração e o cenário de oposição.

O grito é um só: para quem chama a Deus de Aba, Pai...e sabe e crê em tudo o mais...nada mais resta que tudo: se assumir como herdeiro de Deus...e isto com sofrimentos na terra...mas que não são para comparar com a gloria por vir a ser revelada em nós.

Sei que era assim que nosso irmão Paulo via as coisas...

Vê-las assim faz toda faz toda diferença!

Beijão,

Caio

QUEM VAI ME CURAR DO QUE NÃO QUERO SEJA CURADO EM MIM?


Vejo-me todos os dias cheio de um olhar do mundo que difere de quase tudo o que seja entendido como normal.


Entretanto, quando sondo a minha mente, não me vejo como um ser enfermo em nenhuma perspectiva do que seja a normalidade da existência.

Em que então eu percebo ser o meu olhar diferente?

Basicamente em tudo o que está para além das aparências!

Sim; no mundo das aparências e das normalidades aferíveis pela conduta e pelo trato com o todo da vida disponível aos sentidos de todos, sou o que se pode chamar de uma pessoa sóbria e responsável. Porém, no que diz respeito a um olhar mais profundo, vejo-me enxergando coisas para além das aparências e dos fatos disponíveis aos sentidos; e isto é justamente aquilo no que percebo minha total anormalidade.

Jesus disse que havia coisas a serem vistas sobretudo dentro de nós. Sim, pois segundo Ele é no coração onde toda a trama da vida tem seu nascedouro.

Sou, portanto, uma pessoa em estado permanente de auto-análise; na busca de meus enganos, equívocos e auto-enganos.

Jesus, todavia, mandou também que olhássemos para fora, para as encenações da vida e para os sinais dos tempos.

E o que Ele disse?...

Ele disse que a Terra estaria vazia de fé, embora cheia de religiões, cultos e expectativas messiânicas.

Disse também que quando Ele voltasse, não encontraria fé na Terra acerca Dele.

E mais: afirmou que por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriaria de quase todos.

Portanto, o que Ele disse é que a humanidade se tornaria tão cheia de interesses e caprichos egoístas que quase todos se desumanizariam.

Por outro lado, Ele disse que na terra haveria angústia entre as nações em razão das guerras, rumores de guerras e revoluções políticas.

E mais: Ele disse que tudo isto também teria a ver com os roncos da natureza, dos terremotos, dos maremotos, e das calamidades que trazem a fome e a miséria; que por seu turno geram vandalismo angustiado e caos.

Nos céus Ele disse que haveria sinais...

Sinais dos e nos céus...

Ou seja: nas manifestações do que seja movimento humano se teria desarmonia e ódio; no que diz respeito à natureza se teria anormalidades tais que os homens entrariam em pânico; e no que diz respeito aos céus, se teria ameaças visíveis e invisíveis.

Hoje temos tudo isso mais do que nunca antes...

Até os céus estão ficando cheios de coisas estranhas, que a maioria prefere ignorar...

Há sinais de que algo inusitado está prestes a acontecer.

Assim, no mundo dos últimos dias, segundo Jesus, se teria a humanidade desumanizada, a terra em confusões sem fim e ameaças do homem contra o todo da humanidade; a natureza dando sinais de um levante calamitoso a qualquer momento; e sinais estranhos nos céus; seja no Cosmo visível, seja no Universo invisível aos nossos sentidos; sim, coisas que estão interpenetrando nossa dimensão com as assombrações do inusitado e apavorante.

Assim, quando olho o que me cerca, vejo o que todos veem, mas também vejo aquilo que, segundo Jesus disse, está por trás de tudo o que se vê para o bem e para o mal.

Para mim, o mundo nunca esteve tão mal assombrado, embora os dias da Segunda Grande Guerra ainda estejam por ser batidos no que diz respeito à expressão de uma Assombração Coletiva Densa; ainda que adensada de modo menos capilar do que o que hoje se tem mesmo em estado de “paz”.

É tal o estado de endiabramento planetário que nós já nos acostumamos a pensar no mundo como tendo que ser assim como ele está.

Entretanto, esse meu olhar não é fatalista, ainda que isto pareça ser uma grande contradição...

Na realidade eu creio que o Senhor quer adiar o Grande Dia custe o que custar; posto que em tal Dia não haja nada que sirva de refúgio para a humanidade...

Não é à toa que Jesus disse “ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias”.

Sim; se diz que os homens buscarão a morte, mas que a morte fugirá deles...

Em outras palavras, Jesus disse que o Inferno faria seu ninho na Terra!

É aí que meu olhar fica estranho...

Sim; posto que eu não consiga deixar de ver esse Trono/Ninho do Diabo em todos os escaninhos do mundo.

Desse modo, mesmo não sendo nem um pouco paranóico em relação a quase tudo, eu suponho; pois não temo ladrões, nem o amanhã e nem a conspiração dos homens contra mim... — por outro lado, vejo conspirações em toda parte; e as percebo nos níveis visível e invisível.

Alguém me diagnosticaria como sofrendo de Macro-Paranóia. Rsrsrs!

Jesus, entretanto, mandou olhar à volta e buscar discernir os sinais dos tempos...

Pois bem, os vejo no homem, na terra, no mar e nos céus; o tempo todo; sim, cada vez mais...

Ora, isto não me impede de ser feliz e alegre, mas me impossibilita de gargalhar; isto também não me impede de dançar, mas me tira a dança como passo no cotidiano; isto não me impede de sonhar, embora todo sonho me seja uma solução a ser buscada para um problema presente ou para problemas futuros...

Assim, mesmo sem visões e arrebatamentos na Ilha de Pátmos, vejo-me cheio do olhar do Apocalipse em minha mente; e não consigo jamais deixar de ver os cenários invisíveis que cobrem a “realidade” que se faz disponível ao olhar meramente sensorial.

Posso ir a festas, mas a casa do luto me acompanha; curto a natureza, porém faço isto enquanto gemo com ela; amo os homens, ao mesmo tempo em que me angustia ver que quase não há humanidade no que se chama homem.

Beijo meus netos com amor feliz, enquanto peço ao Pai que os guarde no mundo que já está entre nós e no que está ainda por vir...

Daqui do fundo do quintal, onde escrevo estas linhas, à beira de um laguinho cheio de peixes e cercado de pequenos micos nas árvores, ouvindo o canto de dezenas de pássaros — parece que tudo isto é um devaneio de minha mente cheia de sombras...

O problema é que infelizmente não é assim...

Por trás do encanto do meu jardim existe toda sorte de morte à espreita...

Acompanho tudo... Das notícias disponíveis nos jornais, revistas, telejornais e na Internet... à revelação na Palavra.

Busco saber o que se passa nas ciências em geral...

Interesso-me por toda sorte de fenômenos inexplicáveis...

Observo os homens e seus caminhos...

Tento discernir tudo à luz do todo; e, sobretudo, confiro tudo com o todo da Palavra revelada e encarnada em Jesus.

Ora, é desse lugar onde tudo interessa a tudo que me ponho e me vejo observando a vida...

Busco saber sobre Física Quântica tanto quanto me interesso pelas aparições de coisas estranhas nos céus...

Discirno espíritos em pessoas tanto quanto em gerações e épocas...

Tudo me interessa; tudo me diz respeito; tudo me ilumina para entender tanto o específico quanto o elemento universal das coisas.

Ora, é certo que tal olhar tão esgarçado e aberto gera em mim uma percepção que, conquanto não me roube a normalidade nas condutas, mexe, todavia, intrinsecamente com minha interpretação de quase tudo.

Por vezes já desejei ver e sentir menos... Mas nunca consegui ficar livre do esmagamento de tais percepções...

Quando esse olhar do Evangelho entra na gente [...] não nos permite ver mais nenhuma Boa Nova em nada que não seja vida.

Eu, porém, não quero nada menos do que isto; ainda que o aumento de tais percepções fizesse de mim o ser mais estranho da Terra.

Com a alegria que convive com as lágrimas que me molham a cara todos os dias, Nele,

Caio

sábado, 8 de maio de 2010

Caminhando

Segue abaixo esse link para todos aqueles que querem abraçar a causa do evangelho, convictos de que a a vida é muito mais que um mero poema real, é verdade firmada em Cristo nosso caminho acesse e faça parte conosco dessa doce revolução, um abraço.

COM-VOCAÇÃO AO CAMINHO DO EVANGELHO


A PAZ NÃO É PARA SE SABER!


As Escrituras fazem diferença entre paz e paz. Sim! Para Deus uma é a paz do homem e outra é a paz do céu.



Foi por isto que Jesus disse “a minha paz vos deixo, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo”.


Afinal, uma é a paz dos homens e outra a paz de Deus.


A paz dos homens tem a ver com conforto, equilíbrio de poderes, controle, domínio, bens, seguranças, sucessos, liberdade de expressão, determinações afetivas, reconhecimento, tranqüilidade, autodeterminação, boas sensações, etc.


Ora, tire-se qualquer dessas coisas de um homem e ele perderá toda paz que supostamente possua.

A paz de Deus, no entanto, não é assim. Pois se a paz dos homens decorre de muitas bênçãos e prosperidades, a paz de Deus, no entanto, decorre de Deus apenas, e não de circunstancias favoráveis.


A paz do homem é sempre emocional. A paz de Deus, entretanto, é ultra-circunstancial, visto ser um estado que transcende a tudo.


Jesus deixou claro que uma é a paz da terra e outra a do céu.


“A minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo”.


Assim, pergunto:


Qual é a paz que você busca?


A que depende do Paraíso se manifestar na terra, conforme os caprichos e ilusões do homem; ou aquela paz que excede ao entendimento, e que está presente em nós mesmo quando o mundo todo nos designa como azarões?

O conceito judaico de paz, o Shalom, é o de uma paz integral: corpo, alma e espírito.

A paz de Cristo, no entanto, é maior do que o conceito de Shalom.


Afinal, em Jesus, com sucessos ou não, a paz é real, e não se intimida e nem foge ante a angustia, a perda, a catástrofe, o cerco, a opressão, e qualquer outra coisa desta existência.


Sim! Jesus é a nossa paz; e nada mais além Dele!


Alguém lê isto e diz: Eu já sabia. Nada novo!


Ora, eu não estou aqui para pregar novidades, mas apenas para anunciar aquilo que, em sendo vivido pela fé, faz a pessoa viver em novidade de vida.


Portanto, pergunto:


Qual é a vantagem de dizer que sabe algo se você diz que sabe sem ter jamais provado?


A paz de Deus não é uma bandeira. Ela é apenas paz para ser vivida, e não pregada como discurso de sedução aos angustiados.

Paulo diz que tudo isto se transforma em fato e realidade em nós se aprendermos a pensar, a sentir, a imaginar e falar; pois, a paz de Deus enche o coração de quem pensa o que é bom e justo, e busca sentir e falar apenas aquilo que seja construtivo.


A esses se diz que a paz de Deus que excede a todo entendimento encherá suas mentes e coração.


Tudo isto que estou dizendo somente será verdade quando for verdade em você.


Pense nisto!


Caio

terça-feira, 4 de maio de 2010

A difícil convivência com a verdade



Relutei em dar o pontapé inicial, mas por mais que tenha fugido, preciso admitir diante de todos a minha difícil convivência com a verdade. Dissertar sobre as verdades que fazem sentido para mim, é complicado, muito complicado.




Há duas dimensões. A primeira: sinto-me crescentemente empurrado a ser meticuloso em falar de meus sentimentos, angústias, alegrias, desejos. “Seja discreto”, aconselham. “Não conte suas perplexidades”, admoestam. “Você tem mais inimigos do que imagina”, advertem.





A segunda: ando acossado pelos conteúdos de minha reflexão. Diante de um público resistente a mudanças, noto que devo ser criteriosíssimo com o que penso. Tenho que tomar todos os cuidados para não arranhar suscetibilidades dogmáticas. As âncoras doutrinárias e confessionais não podem ser içadas, elas precisam manter os navios institucionais em porto seguro. Impulsivamente tentei convidar alguns amigos e parceiros a navegarem nas águas tumultuadas do oceano das perguntas e das dúvidas, mas fui escanteado, exilado, xingado, rotulado. “Não se deve falar tudo o que pensa”, sugeriram. “Cuidado para não ser inconveniente”, exortaram. “Vá com calma”, avisaram.





A pior censura é a auto imposta, a que nasce do medo, da paranóia. Assusto-me quando tento equilibrar-me nessa corda, na balança entre o tato e a falsidade. Será que o receio de não me expor me tornará anódino, inodoro, insípido? Será que fiquei com medo das hienas que tentam se antecipar ao meu fim e já sabem como atacar?



Hesito. Suspeito escrever sob o olhar antipático de gente que, de antemão, não gosta do que vai ler. Mas, ir ao teclado e não vazar o espírito me tornaria semelhante ao pianista que não pode tocar. A dor de não tocar dói mais que a artrite que lhe entorta os dedos. Restam-me duas, apenas duas, opções: parar de escrever e aprender a empinar pipa – que seria um suicídio lento - ou continuar, sabendo que as críticas não arrefecerão.



Quando caminho pelos porões de minha alma, faço mea culpa. Quando subo aos sótãos, celebro eventos maravilhosos; lugares e pessoas que tornaram a minha vida bonita. Lembro que Rubem Alves escreveu certa vez que a “saudade é o bolso onde a alma guarda o que provou e aprovou”. Gosto de remexer os bolsos, de ruminar o que saboreei, de trazer à memória o que me ainda pode dar esperança. Nesses passeios, dores antigas têm chance de serem curadas.



Tecer reminiscências não é sentimentalismo, apenas o meu esforço de não permitir que o tempo desbote as fotografias, outrora coloridas, da infância. Não abro mão, esta geração dura e fria não vai impedir que eu retorne ao passado em busca do tempo perdido.



Quero escrever sobre questões teológicas que me intrigam, mas logo me corrijo: “Não faça isso, Ricardo, não vá se queimar à toa”. Se não posso esticar conceitos, se é perigoso questionar dogmas, crenças, superstições, então vou copiar receita de bolo -como faziam os jornais nos dias da ditadura. Miguel de Unamuno afirmava: “Saber por saber! A verdade pela verdade! Isso não é humano!”. Não ouso provocar por leviandade. Ao suscitar perguntas, mesmo sem resposta, busco confrontar crenças que considero pueris e desalojar credos que me afastam do drama humano. Sem pretender resolver os mistérios da Divindade, da Eternidade e do Sobrenatural, espero encontrar um fiapo de nexo naquilo que o coração intui. Fazer teologia se transformou no exercício de aprender a chorar com os que choram, de celebrar com os que triunfam e de nutrir esperança ao lado dos que lutam.



Morrerei se deixar que emperrem o minadouro de minha criatividade. Serei pássaro engaiolado, caso me acovarde nos labirintos do saber. Quero satisfazer-me com a beleza, com a dignidade, com o que for louvável, venha de onde vier. Sofrerei com menos tormento a trágica sina de viver, caso encontre a casa do bem, o templo do amor e a sala da amizade.



Convertido ao fundamentalismo desde a juventude, escrevo para reconciliar-me com todos os homens e todas as mulheres de bem que, independente de recitarem o mesmo catecismo, trabalham por um mundo melhor.



Consciente de meus pecados, inadequações e imaturidades, desejo crescer em minha Ricardice. Entendo que os meus maiores inimigos moram dentro de mim. Mas sei também que a possibilidade de humanizar-me depende da capacidade de reconhecer a beleza do meu interior. Se demônios me aterrorizam com vícios, anjos me incentivam com virtude. E nessa maré, que sobe e desce, avanço rumo à vocação de ficar parecido com o Nazareno.




Soli Deo Gloria



Ricardo Gondim