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domingo, 13 de março de 2011

DESISTINDO DO ENGANO DE SER COMO DEUS...





Fp 2: 5-11


“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”

Este é o mistério de Deus, a suprema loucura, a mais incomunicável de todas as realidades, a mais ensandecida de todas as formas de amor, a mais radical decisão, a mais escandalosa escolha, a mais indecifrável charada para as criaturas: a Encarnação de Deus na condição humana.

O caminho desse Mistério é a única coisa a ser verificável, sem, todavia, se poder compreender o Mistério em-si-mesmo.

Paulo apenas nos faz andar pela escada que desce desde a subsistência em forma de Deus até chegar a obediência até a morte, e morte de Cruz, subsistindo como homem mortal.

Esta é a viagem da Encarnação!

No meio disso tudo o apóstolo nos faz viajar do Cristo eterno, até chegarmos ao Jesus Histórico: “...subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou...”

O que precede a tudo isto é um convite à imitação: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus...”

Sim, trata-se de um convite para que se tenha o mesmo sentimento que houve em Cristo. Ora, esse tal sentimento o fez se esvaziar de si, a fim de poder ficar igual a mim em semelhança humana.

No entanto, os pontos de partida são diferentes entre Ele e eu. Ele subsistia na forma de Deus, e passou a ser reconhecido em figura humana. Esta é uma escada para baixo, do infinito ao finito, do eterno ao temporal, do transcendente ao encarnado, do que é, ao que é forma de...figura de...semelhança de...sempre de homem.

Ora, como posso ter tal sentimento? Será um convite a que me esvazie de minha própria humanidade? E o que sobrará em mim se eu desistir de ser um homem? Será que é o meu esvaziamento como homem o caminho para a minha glória divina? Não seria uma blasfêmia eu pensar que ser humilde seja esvaziar-se da minha humanidade a fim de me tornar divino?

Isto porque o sentimento que houve em Cristo, e que Paulo diz que deve haver em mim, é um escada para baixo, até chegar a mim, no plano do que é humano. Mas para onde mais abaixo de mim eu posso ainda ir, a fim de me tornar alguma coisa?

De fato, o caminho proposto por Paulo, e que toma a Jesus como exemplo a ser seguido, só me serve como exemplo no que tange a meu esvaziamento, a fim de me tornar humilde e obediente. Mas de que devo me esvaziar?

Na realidade o que existe em nós é completamente diferente do que havia no Cristo encarnado em Jesus. Ele se esvaziou de Deus a fim de poder ser homem. E eu? Devo ser menos homem do que já sou a fim de ser humilde e obediente?

Ora, se há algo que pode nos fazer humildes é esvaziarmo-nos da mesma coisa, só que em nós esta coisa é uma presunção, uma síndrome luciferiana, uma arrogância essencial, uma perversão de minha própria natureza e vocação.

De fato tenho que me esvaziar, mas não de minha humanidade, porém de minha presunção de divindade.

Sim, tenho que me esvaziar do pecado de ser um homem que quer subsistir em forma de um deus, e apresentar-se como a figura de uma pequena divindade, tornando-me em semelhança de um deus, buscando ser reconhecido por Deus, anjos, e homens, como se um deus eu fosse.

A espiritualidade dos humanos busca a divindade, não a humanidade!

O orgulho que nos impede de conhecer alguma humildade vem dessa doença!

Minha salvação para a humildade, portanto, vem de esvaziar-me da presunção de ser “como Deus”—antigo engodo da serpente—, e assumir a plenitude de minha própria humanidade.

Sim, eu preciso me esvaziar de minha pseudo-divindade e assumir a minha condição humana, a fim de que Deus me torne obediente até a vida, e a vida que vem da Cruz.

Nesse dia, terei a segurança de ser quem sou, e servirei a Deus e aos homens mediante a humildade que não se esconde atrás de nada. E, assim, Deus me dará o nome que está acima de meu próprio nome—de fato, um novo nome—, e me exaltará não acima de outros nomes, mas no Nome que está acima de todo nome, o Nome de Jesus.

Minha grande exaltação na vida é viver para ser apenas humano, vazio de qualquer outra presunção, visto que eu subsisto como homem arrogantemente pecador, e que sofre da síndrome dos anjos caídos, e que só será em mim curada pela via do meu próprio reconhecimento entre os homens como um ser verdadeiramente humano.

Nesse dia conhecerei a verdadeira humildade, visto que ela começa sua jornada em minha encarnação como homem.

Sim, o convite é para que eu me esvazie do vento de minhas presunções e me deixe reconhecer apenas como um humano que diz:

“Fiel é a Palavra, e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo salvar os pecadores, dos quais eu, entre os humanos, sou o principal”.

O problema é que há daqueles que até na hora da mais visceral confissão de humanidade, ainda assim, a fazem com orgulho.

Eu, todavia, de nada me orgulho, mas apenas me glorio, e me glorio somente no Senhor, que é o único que pode subsistir em forma do que é divino e se esvaziar ao ponto de ser reconhecido como aquele que é humano.

Eu, no entanto, subsisto na forma do que é arrogantemente divino—conforme a tentação do Éden—, e tenho que me esvaziar de tal orgulho enganoso, a fim de ser apenas um homem, e poder ser reconhecido como homem, e como um homem apenas.

Não existe humildade que não faça, forçosamente, essa jornada!

Peço a Deus todos os dias a coragem para fazer essa jornada. Nela está o meu eterno tesouro!

Caio

terça-feira, 1 de março de 2011

EXORCIZANDO AS TREVAS INTERIORES






Paulo disse, escrevendo aos Efésios, que “tudo o que se manifesta é luz”.


Ora, esta afirmação carrega um bem psicológico e espiritual incomparável.

Digo isto porque deixar que o interior se expresse a nós mesmos é o que de melhor podemos fazer por nossas vidas.

Alguém pergunta: por quê?

Ora, esta pergunta é mais que pertinente, e isto por algumas razões bem simples de entender.

Primeiramente porque somos ensinados a esconder, a não deixar que nada se manifesta, visto que é nossa tarefa, como “bons cristãos”, darmos “bom testemunho” mediante um comportamento equilibrado, mesmo que o interior seja mais agitado e revolto que a força do Atlântico quando empurra o Rio Amazonas de volta para seu próprio lugar, depois que as poderosas correntes do rio invadem o oceano.

A segunda razão para não deixarmos que nosso interior se manifeste vem da certeza que se tem do “juízo dos outros” contra o que existe em nós—e que é a mesma coisa que existe em todos—; e, por isto, selamos com selos de medo e vergonha quem somos e o que sentimos, a fim de não sermos condenados pelos outros.

O que as pessoas parecem não saber ou crer é que Jesus disse que aquilo que acontece no interior da casa um dia será gritado da varanda, pois, nada há oculto senão para ser revelado.

Ora, este princípio é inviolável!

E por que tal princípio é inviolável?

Primeiro, porque o interior é vivo e dinâmico e jamais para de crescer.

Ou seja: se algo existe em mim, no meu interior, esse algo continuará a crescer até que venha para o lado de fora, para a luz. Assim, quanto mais eu empurro para dentro aquilo que existe em mim como realidade, mais eu aumento o poder do juízo no dia em que isto que está oculto vier a “gritar do telhado” a fim de se expor como verdade.

Portanto, não há como eu possa selar o meu inconsciente e fazer com que ele se cristalize em obediência às minhas necessidades de conformidade exterior.

Mais cedo ou mais tarde o que é, é...e passa a ser, mesmo contra a minha vontade.

Além disso, à semelhança do Atlântico quando empurra o Rio Amazonas de volta para seu próprio lugar depois que suas correntes invadem o mar, assim também o Inconsciente (Atlântico) empurrará as repressões do consciente (o Rio Amazonas) de volta para seu próprio curso, e força-lo-á a reconhecer a força que emerge do oceano de meu Inconsciente.

Esta é a pororoca da alma, e os resultados podem ser devastadores!

Ora, Paulo disse que uma vez que as coisas que estão dentro—por mais feias que nos pareçam—emergem e aparecem como sinais exteriores, seja pela via do comportamento ou apenas pela via da constatação dos sentimentos e pulsões interiores que em mim existem, então, elas começam a perder a sua força, visto que foram retiradas do ambiente no qual eles se alimentam—as sombras do inconsciente! O caminho para a libertação das trevas é trazê-las para a luz. Ora, a luz é a verdade.

Ou seja: o que nos liberta dessas forças compulsivas do interior é a exposição delas à luz da verdade em minha consciência.

Quando eu não me escondo mais de mim mesmo, e chamo pelo nome aquilo que em mim existe e que eu passo a vida tentando negar a existência, então, estranhamente, aquilo que passa a ser nomeado em mim, perde sua força, visto que sua fonte de energia é a escuridade da negação, e o ambiente do ocultamento culpado.

No entanto, quando abraçamos a verdade, essas sombras são iluminadas pela luz em razão de meu ato de reconhecimento e de não-negação da realidade em mim existente, e, paradoxalmente, perdem seu poder de assombrar, pois agora já não são mais “fantasmas”, mas realidades nomeadas pela luz.

A maioria das pessoas teme tal constatação pelo simples fato de que foram ensinadas que tais coisas precisam ser reprimidas e matadas por nós mesmos e em nós mesmos.

E, assim e desse modo, na tentativa autojustificada de ser santo, eu me torno um tarado, ou um ser compulsivo e cheio de amargura e ódio, visto que nenhuma vida pode receber paz se existe em fuga de seu próprio interior.

Trazer nosso interior à luz não deve ser entendido como trazer nossa estultícia à luz.

Não, não é isto. De fato, o significado de “manifestar” o interior não tem de significar um mergulho de cabeça no mar das nossas compulsões e desejos reprimidos.

Ao contrário. De fato, tem-se que “manifestar” o interior justamente para que ele não se torne nosso “senhor” e nos obrigue, sem escolha, a expor pela pior via o nosso interior como doença do comportamento, e que pode fazer mal não apenas a nós mesmos, mas a muitas outras pessoas.

Trazer nosso interior à luz começa como vontade de não mais fugir de olhar para nós mesmos, e continua mediante a coragem de dar nome às coisas que até então nós chamamos de “nossas virtudes”.

Isto porque, em geral, quando o ser, como um todo, não veio para a luz sem medo, a tentativa da gente é “batizar” nossas doenças com nomes de santidade e virtude. Nesse caso, se alguém desejar saber quais são as suas piores sombras e monstros ocultos no seu ser, basta ver quais são os temas que mais o provocam como raiva e ódio em relação ao comportamento dos outros, visto que, normalmente, odiamos de todo o coração aquilo que mais desejamos, e não fazemos porque nos sentimos impedidos de realizar em razão de nossa própria virtude exterior.

Assim, a virtude autoglorificada é sempre o diagnóstico da treva em nós ocultada!

O caminho, portanto, começa com o exercício de falarmos a verdade com nós mesmos, e pararmos de julgar o próximo com ódio, pois quanto mais negarmos que as mesmas coisas existem em nós, mais odiaremos aqueles nos quais tais coisas se manifestam, e, assim, tanto mais, pela via de nosso próprio ódio, aumentaremos nossa própria escuridade interior, e nossas sombras crescerão sem limites em nós.

Pense nisto!

Caio